sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Resenha: A Cor que caiu do espaço



Formato: Brochura, 11,5 x 17,5 cm. Ano de Publicação: 2011, p. 104. Preço: 20,00



O nome de H.P. Lovecraft está escrito em pedra no panteão da literatura de horror e ficção científica. Seu nome é um sinônimo para histórias de horror pessoal e psicológico, de narrativas densas sobre a descoberta de entidades cósmicas que dominam o universo. Lovecraft é um exemplo de literatura de qualidade. Para não me alongar nos elogios à um dos meus autores favoritos passo a resenha de um de seus excelentes contos.
O próprio autor atesta a qualidade deste conto ao elencá-lo como um de seus preferidos: “de toda a minha produção os meus [contos] favoritos são ‘A cor que caiu do espaço’ e ‘A música de Erich Zann’, nesta ordem” ¹.


Howard Philips Lovecraft (1890-1937)
Criador dos Mythos de Cthulhu e pai do Horror Moderno



Publicada originalmente em 1927 na Amazing Stories (The Colour Out of Space), uma das primeiras revistas norte americanas dedicada a ficção científica. A história entorno da publicação do conto nos indica um retrato do cenário editorial dos anos vinte nos Estados Unidos, afinal Lovecraft recebeu míseros 25 dólares pelo conto.


Amazing Stories, Setembro de 1927.



A história é situada na zonal rural da cidade fictícia de Arkham (que também possui um Asilo como uma certa bat-cidade), localizada no estado de Massachusetts. Acompanhamos o relato de narrador (que não é nomeado) sobre sua experiência na durante a construção de uma nova represa nessa região. O narrador nos introduz a história principal apresentando Ammi Pierce, um velho fazendeiro da região, que acompanhou de perto os estranhos acontecimentos que ocorreram nas terras da família Gardner, após o avistamento de uma estranha cor que caiu do céu.


Ilustração feita por J. M. de Aragon para acompanhar o conto na Amazing Stories. 


A narrativa é apresentada no ano de 1920, fazendo menção as memórias de Ammi Pierce sobre os acontecimentos de 1880. O contato com a entidade alienígena é sutil em um primeiro momento, em função de sua própria natureza, que lentamente segue corrompendo as formas de vida da área em que se instala, o que incluí obviamente a fauna, a flora e a família Gardner. Não me alongarei mais em descrever a história, afinal toda graça está em ler e se transportar para atmosfera criada nesse processo.
Há ainda outros três textos que compõe essa excelente edição, que apesar de bem simples possuí um ótimo cuidado em sua diagramação. Os textos, que não são histórias, são reflexões produzidas pelo próprio autor em correspondências trocadas com seus pen palls, na presente edição a seleção incluí textos que se referem a temática abordada no conto: “A confissão de um cético”, “Notas sobre uma não entidade” e “Notas sobre ficção interplanetária”. Os três textos compõem um apêndice que complementam a leitura do conto, além de ajudar a desvendar um pouco do processo criativo do autor.
A obra de Lovecraft é conhecida pela imersão que as histórias possibilitam, através da relação entre algumas histórias e alguns personagens. No caso de "A cor que caiu do espaço" isso não é presente, assim não haverá referências aos "Old Ones" ou aos "Elder Things", o que ao meu ver torna esse conto um excelente ponto de partida para quem nunca leu nada do autor.
Para terminar acredito que um trecho do próprio autor pode revelar mais sobre o tom encontrado nas histórias:

“Todas as minhas histórias baseiam-se na premissa fundamental de que leis e interesses e sentimentos humanos são desprovidos de qualquer validade ou significado na infinitude do cosmo. Para mim não há nada além de puerilidade em uma história em que a forma humana – bem como paixões e condições e tradições locais – sejam retratadas como nativas a outros mundos e a outros universos. Para atingir a essência da externalidade, é preciso esquecer que coisas como a vida orgânica, o bem e o mal, o amor e o ódio e todos os atributos locais similares pertencentes a uma raça temporária e desprezível chamada humanidade sequer existam... quando cruzamos a fronteira do desconhecido infinito e oculto – do Espaço Sideral assombrado pelas trevas – precisamos deixar a nossa humanidade e o nosso terrestrialismo na porta.” ²

     Hugo André 
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1– H.P. Lovecraft. A cor que caiu do espaço. Trad. Guilherme da Silva Braga. Editora Hedra, 2011, p. 14.

2 – H.P. Lovecraft. A cor que caiu do espaço. Trad. Guilherme da Silva Braga. Editora Hedra, 2011, p. 10.

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